sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Atos Confidenciais

No retrato, eu morto
Contemplando as alvíssaras que me restam
E a face, destroçada pelo tempo
Nua de ardor como fogo em tapume.

Ando mil quadras pro lado
Me encontro, longe de mim
No espelho ressonam minhas lágrimas pretas,
A saborear meu retorno escandinabro.

Um rouxinol me consome
Pela fatigada monotonia dos ventos
Eis a última das tuas quimeras a ressonar,
E eu, a contemplar meu retrato, eu morto.

O mármore a cheirar atabique
Se desvanece com a porosidade dos tempos
Esfumaçando pela sala, pedaços de cetim
E eu, ainda a contemplar-me morto, agora, sem retrato.

Milena S.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Confissão Literária

Se digo, recitar Shakespeare
Por que me acude com José de Alencar?
Brota mil e um "ar-dis"
E nenhum romance.

Sejais tolerável, amigo
És-te complicado Assis?
Pois te parece Mário de Andrade
Fujas do inimigo, não do tolo

Versos Alexandrinos, proparoxítona
Decassílabos do BA-BÁ
Sonetos em versos
Eis a metrificação

Quincas Borba, a mesmice irradiação
Ou será Casimiro de Abreu?
Príncipe dos Poetas, Poeta dos Escravos
Tríade Parnasiana, poetas de coração!

Milena S.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Sublime Falsário

Entre a monotonia das noites
Vejo neste ínterim, imagens,
imagens que nunca encontrara antes
cópias do Homem-da-Noite.

Meus cânticos, sussurrando uivos de mortos
são tormentos, escárnios aos olhos dos sábios
Flores rosas no quadro negro. Vejo.
Ora vespertinas, ora matutinas, retalhos perdidos.

A noite, a lua escarra como feixe
Ao despertar, o sol desaparece, taciturno
Ora, veja pois, que escuridão matutina
Que claridade nociva, teus olhos, Homem.

Nas madrugadas pródigas, vejo-te andando nas ruas
O dia vem, vejo-te dormindo acordado
Ora, que deste homem sublime, Filho-da-Noite,
Sê, se comparado ao Bicho-do-Mato.

Milena S.